segunda-feira, 28 de março de 2011

'AS BORBOLETAS DO DEFUNTO'

  ACOMPANHEM ESTE CONTO, QUE SERÁ POSTADO CAPITULO POR CAPITULO, A MEDIDA EM QUE O AUTOR FOR ESCREVENDO.
                                                       
                                                CAPITULO I


 Deste homem, podemos falar merecidamente!
Aqui estava alguém que, sobre a maioria das coisas, sabia mais que todos!
Que amava aprender e, a ensinar de tudo sob a luz da lua.
Olhava cada vizinho, amigo, criança e idoso como irmãos.
Sem contar o seu olhar, especial para com as mulheres...(Lançou o olhar, para três senhoras distintas que, seguiam logo atrás o cortejo).
Eis portanto um homem, que pode servir de inspiração para todos os presentes que; em posição mais elevada, ou mais humilde, puderam desfrutar de seu espírito aberto e generoso. um espírito que, somente os grandes pensadores e sonhadores possuem.  Deus o tenha em bom lugar! Finalizou o padre...
Quem ouviu o discurso, por um minuto, ficou imaginando se, as palavras do padre eram sobre o mesmo defunto que eles haviam acompanhado até ali: Naquela manhã de, 1 de abril de 1999.
Cemitério das Flores, uma fina garoa cai sobre as cabeças baixas das pessoas que caminham pelo canteiro, entre as lápides. Ouve-se gemidos, choro baixinho, narizes fungando, ahís! e, ohs!, profundos e carregados de dor.  Encabeçando  a fila, vai um caixão pobre, de carvalho sem muitos enfeites, transportado por quatro varões chorosos que, sem muito esforço, com uma das mãos seguram a alça do ataúde, e com as costas da outra mão, esfregam os narizes que escorrem, cuja secreção se mistura com a garoa fina...
As mulheres que seguem emboladas logo atrás, possuem perfis distintos; a mais jovem, vinte primaveras apenas tinha, com pele morena, corpo esguio, um rosto bonito, chama-se Karina.
Ao seu lado, um pouco mais baixa, porém mais volumosa, com pele mais clara, aparentando seus trinta invernos, uma moça sisuda que atende por Sara. Um pouco mais atrás, de cara amarrada, como se fosse a próxima a ser enterrada, caminhava Tiana, mulata madura, com seios enormes, um nariz anormal, completara quarenta e dois anos com muito champanhe, pois foi no natal.
Apesar do belo discurso do padre, as três mulheres que conheciam o defunto, sabiam que em vida, era bem diferente o assunto. Tiana fora a primeira a cair na lábia do garanhão; era uma sexta feira, uma noite bonita com lua cheia, no Morro do Sabão!...
 Chegou do trabalho por volta das seis da tarde,  jantou e passou um bom tempo se produzindo, até perto da hora de ir para o baile.
o forró ficava na parte alta do Morro do Sabão, o baile do  Nego Lú,  sanfoneiro por vocação.
vestido curto, decote generoso, salto alto, e cabelo com brilho: a mulata estava arrazando; arrancava assobios  e, olhares cumpridos por onde ia passando.
Já no forró, encontrou Katulé perto do balcão, com cotovelo apoiado, as pernas cruzadas, e um copo na mão. seus olhares se encontraram por um instante, ( Tiana estremeceu ),  foi suficiente para acender o fogo da atração entre eles. Após um longo trago no cigarro e um gole na cerveja, Tiana foi para o meio do salão fazer aquilo para que viera; dançar, começou a se balançar sozinha, mas por pouco tempo, pois com apenas dois ou três passos, Katulé já se encontrava ao seu lado, com sorriso amarelo, pedindo para dançar com ela quele forró "alfabetado" com palavras de periferia que seguia assim:
Sou homem solteiro/
E estou desempregado/
Procuro viúva rica/
Com casa, carro, e gingado/
Que queira casar comigo/
P´ra eu ser seu namorado...

Enfim, á dança agora era outra, seus corpos suados de requebrar, faziam surdos seus ouvidos, para o soneto vulgar.
Eis o ponto melindroso, Katulé sabia chegar; os lábios colados ao orelhão da mulata, decantava poesia barata, fazendo-a arrepiar.
Em poucos minutos, os dois se encontravam com os grilos, ali mesmo sob o céu, entre as folhagens, atrás do barracão onde o forró comia solto.
Como gavião faminto, experiente, Katulé fez de Tiana sua "borboleta" naquela noite!
- Vamos voltar para dentro! ( disse Tiana), enquanto acendia mais um cigarro.
-Não, voltar para que ? -respondeu Katulé, com ares apaixonados; Só ares, pois o malandro, não era homem de se deixar pegar nas "arapucas" do amor!
Aos quarenta e cinco anos, profissão; picareta; ( dis-se daquele que ganha a vida como atravessador de pequenos negócios), onde havia á venda, um terreno, carro, casa, e até mesmo, móveis usados, Katulé se entrometia, muito popular no morro, e nos bairros ao redor, rapidamente arranjava um comprador para estas coisas, abocanhando razoável comissão, com que levava uma vinha simples, mas sem muito esforço. Afinal, sua vida se resumia durante a semana, a "picaretear", e nos finais de semana, gastava seus trocados nos bares, em jogos de, truco, sinuca, e dominó, onde as vezes ganhava, mas outras, muitas outras, perdia. O ponto é que, sempre reservava algum para as noitadas invariávelmente passadas no forró do Nego Lú, do qual se fizera amigo a algum tempo, claro que, com a intenção de  frequentar de graça o salão
e poder tomar algumas "biritas" fiado. Seus trocados, só abandonavam sua "boroca," (carteira), quando se tratava de impressionar alguma de suas "presas";
Tiana insistia em entrar , pois o "esfrega" a deixara com a guela seca, e ansiava por outra cerveja. Katulé concordou, pois também era "tarado por uma loira gelada".
O forró, acabava as 4:00 hs da manhã, e faltava pouco mais de meia hora, agora, sentados em uma mesa de lata enferrujada e, riscada com todo tipo de nome chulo por seus tantos frequentadores, o malandro queria saber mais sobre Tiana, que entre um gole e uma tragada, resumia sua vida pobre de empregada doméstica.
Ao chegar no assunto casamento ,os olhos de Tiana se tornaram profundos, profundos e distantes como se mergulhassem em um passado distante buscando alguém...
Katulé percebeu que ela havia amado, talvez algum outro vagabundo que, a largara sózinha  após muitas promessas, que nunca  foram cumpridas.
Percebendo a dor da moça , e também é claro, a possibilidade de consola-la, colocou para fora seu lado sensível, ganhando de vez á confiança da mulata, que aceitou companhia até sua casa naquela noite, onde o cruzeiro do sul já havia á muito, feito a curva do horizonte!
Por volta das 11:00hrs, ja sabado, Katulé deixava a casa de Tiana, café preto com bolachas de água e sal, foi servido no café da manhã, pois a ressaca não permitiu que fossem á padaria comprar pão.
Prometera voltar, para busca-la mais tarde e fazerem algo juntos, talvez tomarem uma cerveja cura ressaca;
Mas Tiana despedi-o se negando a sair naquela tarde, pois com seu trabalho semanal, as tarefas de casa estavão por fazer e ela queria ainda aproveitar o sol para lavar roupas, e pediu ao malandro que, só  aparecesse no domingo, pois prepararia uma bela rabada para o almoço.
Katulé concordou de imediato, pois por ser sózinho, vivia aos domingos serrando "bóia nas casas dos vizinhos! E se foi, descendo as ruas do morro dando graças á DEUS por não ter chovido naqueles dias, pois por serem ruas de terra, com qualquer garoa se tornavam tão lizas e escorregadias, que era muito comum ver seus moradores com os "traseiros " cheios de barro; dai o nome: Morro do Sabão, não poderia ser melhor.
                                                   
                                           CAP. II

Caminhava lentamente, procurando ver por ali alguma placa de ; "Vende-se qualquer coisa", com esperança de faturar algum, pois teve que impressionar Tiana com meia dúzia de "loiras geladas", além de uma porção pequena de linguiça calabresa acebolada, restando-lhe apenas algumas "merrecas" no bolso. Mas, valera a pena - pensou ele- A mulata era boa no "esfrega"; e ainda assim , tinha garantido o almoço de domingo.
Enquanto viajava em seus pensamentos; foi trazido de volta a realidade, por um grito de medo feminino.
Olhou para o lado e viu na calçada uma velha escada de madeira, subindo o olhar, encontrou em cima dela, agarrada como uma lagartixa ao muro, cai, mais não cai, uma moça, que, ao tentar fixar uma placa ao poste de sua casa, não contava com a ação do tempo sobre o degrau de madeira e, apodrecido, rachou sob os pés da moça que, mais de susto que de ágil, conseguiu agarrar-se ao muro  ficando naquela posição. katulé, saltou como um gato em direção da moça, subiu dois ou três degraus da velha escada, o suficiente para alcança-la pela cintura e socorre-la antes que se estabanasse no chão.
- Obrigada moço!! Se fosse o senhor, poderia ter caido e quebrado aas pernas.
- "De nada moça"; Respondeu ; olhando para as belas pernas da moça, que trajava um  pequeno short´s , e camiseta branca de algodão barato- em seguida ,fixou o rosto da mulher que se encontrava, trêmula á sua frente devido ao susto, e reparou que era muito bonita, apesar de um pouco acima do peso, para sua estatura, era uma moça atraente; e despertou-lhe mais uma vez seu instinto masculino.
-Você esta bem , se machucou? Perguntou com vóz doce..
-Estou sim, ralei um pouco os braços e a barriga no chapisco do muro, mas poderia ter sido pior ...Olha! ainda etou tremendo de susto, preciso de água, quer também?
- Aceito sim! disse Katulé , lembrando-se que ainda estava sob o efeito da ressaca da noite, passada com Tiana. - Um copo de água gelada vai bem! -completou-
- Pode entrar, não tem cachorro, pode vir seu... seu...? Não sei seu nome...
- O bairro todo me conhece por Katulé!
- Meu nome é Sara; disse á moça, enquanto despejava água nos copos de vidro.
- Já ouvi falar no senhor! Não é o senhor que costuma encontrar compradores para as coisas que a gente tem para vender?
- Eu mesmo,  por falar nisto, percebi que estava colocando uma placa de venda lá fora! Mas não deu para ver o que era...
- É sim, estou querendo vender alguns móveis usados, talvez o senhor possa me ajudar pela segunda vez hoje? (já estava mais tranquila, pois o susto havia passado).
- Ajudo sim, com muito prazer; (Katulé respondeu cobiçando á moça com  "rabo de olho",mais uma vez.) - Desde que pare de me chamar de senhor! Você e seu marido pretendem comprar móveis novos? Perguntou na malandragem, com intenção de saber se havia homem na casa.
- Um, Hã!, seco foi o que ouviu como resposta. - Que marido?(tornou ela com tom grave na vóz). Se tivesse um, acha que estaria trepada naquela escada? Fui casada com um traste, mas o coloquei para fora de casa já faz uns seis meses; Não servia nem para trocar lâmpada queimada, inútil de tudo e ainda queria se dar o luxo de ter amantes, coitado! Não dava conta nem de uma!
- Por isso resolvi vender estes móveis, pois não quero nada que me lembre aquele infeliz, vida nova, tudo novo, sabe?
Katulé bebia aquelas palavras com mais prazer  do que sentiu com o copo de água fresca! Ali, enxergou mais uma oportunidade de unir o útil ao agradável; poderia faturar algum vendendo os móveis velhos da moça, e quem sabe ainda poderia capturar mais uma "borboleta" para o seu jardim de amante da periferia.
- Sei, sei...! tornou ele; - Alguns homens são cegos, e não valorizam o que têm, depois lamentam á sorte quando perdem! E filhos não tiveram? prolongou o assunto, sentindo a barriga roncar, pois já era próximo da hora do almoço.
- È... se o senh..., desculpe, você não estiver com pressa pode sentar, vou acabar de arrumar o almoço, depois te mostro os móveis que quero vender; Mas não.., por sorte não tive nenhum, pois o danado não parava em emprego, e só consegui esta casa por que foi herança da minha mãe. Ela morreu faz quatro anos! Nós morávamos nos dois cômodos dos fundos, aí passamos para frente que é um pouco maior, e alugamos atrás para uma colega. ( Sara ia falando enquanto fritava os ovos, adorava falar). - O nome dela é Karina, veio do norte para trabalhar.
- Sei! respondeu Katulé, interessado no assunto.
- Vamos almoçar, é simples, mas é o minimo que posso oferecer por ter me ajudado.
Katulé estava encantado com a simplicidade da moça, almoçavam juntos como se fossem velhos amigos. Sempre observando-a percebeu nela uma dureza no olhar, típica de quem já sofreu bastante, mas sabia que tinha que ser forte,pois a vidas na periferia era dura e gostava de bater; até nocautear os mais fracos! Acabaram de comer, e Sara lembrou-se de passar algo nos arranhões dos braços e da barriga, abriu o armário pequeno sobre a geladeira e tirou de lá um vidro com alcool e algumas ervas dentro; Ao destampa-lo, o cheiro forte de mastruz, com copo de leite e, pétalas de rosas, misturou-se com o cheiro de ovos fritos que ainda restava no ar da cozinha.
- É receita da minha mãe, -disse-, Ajuda a cicatrizar mais rápido, ela aprendeu com minha avó na roça.
- Deve arder bastante! Falou Katulé, vendo a moça sem timidez erguer a camiseta branca de algodão barato, até a altura dos seios, cobertos com sutiã marrom, e com a mão melada de remédio caseiro esfregar os arranhões.
- Shshshs! Fez a moça entre os dentes; - Arde pra caramba! Mas amanhã já estará seco.
(O picareta não tirava os olhos do umbigo da moça), perguntou-lhe pela inquilina para aliviar um pouco a tensão.
- É cabeleireira, deve estar no salão faturando uns trocados.( respondeu Sara, voltando a baixar a camiseta). Sabe como é né? O povo do bairro só corta o cabelo dia de  sábado!
- É verdade! -tornou ele; - Eu mesmo já estou precisando aparar o "carrapicho", se deixar crescer mais, acabo virando bicho.
- Se quiser , depois te passo o endereço d´onde ela trabalha, um freguês á mais é sempre bom, ainda mais que esta chegando o dia do aluguel!
- Por falar em aluguel, também tenho minhas contas para pagar, se me mostrar o que têm para vender, vou ainda hoje tentar encontrar comprador, eu cobro uma pequena comissão sabe? Déz por cento do que conseguir vender; e te garanto que encontro alguém interessado rápidinho.
 Ela lhe passou papél e caneta, para que anotasse tudo; uma cômoda de mógno, um guarda-roupas de solteiro, um sofá de três lugares, e uma pia de banheiro. Entre outras coisas, Katulé anotou tudo e também foi listando preços á cada item, depois olhou o relógio e resolveu ir andando, despediu-se da moça com um suave beijo na bochecha, prometendo voltar logo com um comprador pois conhecia as pessoas certas. ( o seu João Sapateiro, pensou). Ele tinha um salão no pé do morro aonde fazia consertos de sapatos, mas como o negócio não andava muito bem, resolveu aproveitar melhor o espaço negociando com móveis usados. Voltou já na boca da noite, com o tal do João Sapateiro e sua "Kombi cabrita" 77, que soltava faíscas pelo escapamento, cada vez que encarava a subida quase em pé, do Morro do Sabão. - chamou Sara do portão, e sorriu quando á moça saiu tomada banho, e vestida com leve vestido curto, de pano barato, comprado em loginha do bairro; Katulé apresentou-lhe o comprador de móveis, e, deixou que os dois fossem na frente, assim apreciaria melhor  o "casulo" de sua próxima borboleta.
- Negócio fechado! disse João, chegando em acordo com relação ao preços dos "cacarecos".
Em meia hora com a ajuda de Katulé, já com sua comissão no bolso; carregaram tudo, e lá se foi á
"Cabrita" de João sapateiro soltando faísca morro abaixo.
Sara estava felíz, por ter se livrado das tralhas do ex marido; E Katulé muito suado, devido á falta de costume de pegar no pesado: - Mas por Sara vale á pena,( pensou).
Sara percebendo o cansaço de seu novo amigo, convidou-o para se refrescarem com uma bebida, assim poderia comemorar o sucesso da venda. Mais do que depressa ele aceitou, entrando com ela na cozinha, desta vez mais a vontade, perguntou-lhe sobre vários assuntos, concentrando-se em namorados, se os tinha, ou pretendia te-los, ao que ela respondia de forma quase evasiva; - Ainda não tenho nimguém, mas, se aparecer que seja, porque vou ficar sózinha com tanto homem no mundo?
( mais uma cerveja).
    - E você meu amigo? È amaziado ou enrolado? não me parece ser casado!
   - Não sou, nunca fui, sabe como é, poucos estudos, os negócios não andam bem, dinheiro curto,   fica difícil construir família. - Más um namorico aqui, outro alí, e vamos levando. Enquanto isto, me distraio no forró, com minhas amizades.
   Enquanto jogavam conversa fora, na rua um fusca passava lentamente, até porque seu estado não permitiria que andasse mais, seu motorista com sinais de embriaguês, olhava com muita raiva para casa, amaldiçoando sua moradora, e o homem que se demorava lá dentro com ela.
   -Vagab...! (resmungava com vóz esticada devido ao excesso de alcool). - E ainda me criticava por
 que tinha uns casoss! - Masss me paga, os doiiiss, mato os doiis! enquanto dava socos no volante do velho fusca, fazendo voar a tampa da buzina.
     Se tratava de,  "Zé Casadinho", que desde que Sara o colocou para fora de casa, e não quis mais recebe-lo nem ao menos ao portão, passou á embriagar-se com mais frequência, nos botecos das redondezas, sempre remoendo um plano de vingança.
     -Sabia que tinha outro! ( pensava). - Aquela prostit..., vivia dando uma de santinha me acusando, dizendo que eu não prestava só por que ficou sabendo de uns casos meu, e ela? - E elaaa?
  -Hipócrita, mas me paga, ah! se paga! Parou seu fusca velho quatro ruas abaixo, com o pneu dianteiro em cima da calçada, assim que avistou o bar-forró do Nego Lú ainda aberto.
   -Vou tomar mais uma, senão endóido! Volto lá agora mesmo e mato os doiiis! (resmungou alto enquanto descia do carro).
    Á noite já entrava "goela" á baixo, enquanto, Katulé e Sara sem suspeitar do "tsunami" alcoólico que os vigiava e, ameaçava invadir os barracos de suas vidas a qualquer momento,continuavam sua conversa , agora animada por caipirinha com gelo e bastante açucar, que Katulé teve o prazer  de preparar para melhor adoçar seu bico de contador de "lorotas". Sara que não estava acostumada á beber bebidas fortes, já apresentava certos sinais de embriaguês, rindo muito á cada história que Katulé contava,enquanto ria colocava a mão no ombro do amigo de forma íntima, mais um copo de caipirinha, e já estavam grudados no sofá sem roupas,como se fossem um casal de "mandruvás" trocando seiva.(Katulé enredara sua segunda borboleta). Não ouviram Karina chegar, pois entrou discretamente pelo portão dos inquilinos e se recolheu com seus sinistros pensamentos, que trazia consigo desde que deixara sua cidadezinha no norte.
Passava das 8:30h. da manhã de domingo quando Katulé despertou, com gosto de cabo de guarda chuva na boca, devido á ressaca emendada,procurou Sara percebendo que se encontrava na cozinha fazendo café. Lembrou-se de Tiana que veria mais tarde, precisava melhorar ás aparências, pois não pisava em seu barraco desde sexta-feira quando saíra para o forró e encontrara-se com á mulata.
Foi ter com Sara na cozinha, disse-lhe que tinha alguns negócios para resolver naquela manhã, e disse que queria muito ve-la de novo.
-Claro que sim, vou precisar de você muitas vezes ainda,você é um ótimo amigo, e poderá quebrar uns "galhos" de vez em quando.(Disse com certa ironia).Despediram-se com um beijo.
Katulé ao sair á rua não percebeu o fusca parado algumas casas á diante, com seu ocupante rangendo os dentes de raiva, e com os olhos vermelhos, consequência do alcool ingerido, e da noite passada em vigilia na porta da ex-mulher. Por muito pouco conseguiu sofrear seus impulsos, para não invadir á casa e praticar um ato tresloucado.
Optou por "cozinhar sua vingança"! A semente do ódio estava plantada em sua mente,e germinava.
Zé casadinho já o tinha visto algumas vezes pelo bairro,e já haviam se cruzado nos botequins que frequentavam, tinham algo em comum,eram dois bohêmios sem compromissos.
Mas, Zé cassadinho se achava no direito de possuir uma mulher só dele; Katulé queria ser de todas.
Porém, nem tudo era só prazer na vidinha simples de Katulé.Perto de sua casa deparou-se com Bozó,(sujeito de seus cinquenta anos,dono de algumas casas de aluguél e aposentado por invalidez,nimguém sabia dizer qual tipo).
Deveria ter sido banqueiro em outra encarnação, pois seguia multiplicando seu capital, praticando agiotagem pelo bairro,emprestava pequenas quantias á juros "assaltivos", a quem nessecitasse, especialmente á jogadores e viciados de todos os tipos.Entre eles, Katulé, que já algum tempo lhe devia uma significativa quantia que perdera em jogo de baralho.
- Dia! seu Katulé!-foi dizendo Bozó, econômico até nas palavras-
-Quanto tempo, estava indo em tua casa, fazer uma visita.
-Bom dia Bozó!-a cara de gozo se apagou,e o alarme de tsunami soou em seu cerebro.A adrenalina enjetada em excesso em seu sangue,espantou o resto da ressaca, Katulé não contava com aquele encontro.
-Te procurei no bar do Nego Lú, esteve por lá acompanhado, sinal que está com dinheiro, já se passaram vinte dias do prazo combinado,te falei que não gosto de atrazos,se não paga nem o juros de um mês, quem dirá de dois?
- É... eu sei Bozó, é que os negócios tão fracos, mas tô correndo atrás!
hoje mesmo vou fazer uns "rolos" com alguns aparelhos e vou levantar algum,amanhã te levo o que conseguir.
- Já ouvi esta conversa,levanta uns trocados e ao invés de me pagar,tenta á sorte no jogo,e como sempre dá azar, você e eu que não recebo;Vou esperar até amanhã,não se esqueça de quem eu sou e o que eu já fiz com quem não me paga ou tenta me passar para trás,o cemitério clandestino ainda tem vaga sobrando! Lembre-se, até amanhã as seis.Venho aqui no teu barraco, não esquece!!
- Tudo bem pode vir darei um jeito de conseguir seu dinheiro, e não jogo mais. vou mudar de vida,chega de dar moleza pro azar, até amanhã.( retrucou Katulé desjando acreditar nas próprias palavras).
-É bom mesmo, vai trabalhar que é melhor,antes que á policia pôe ás mãos em você, já se esqueceu que conheço sua história,o que você aprontou lá no norte, antes de vir se esconder aqui neste buraco,fica esperto!Até...
Bozó se foi, enquanto subia a rua passou pelo velho fusca branco parado á alguns metros de distância, Zé casadinho de longe observava tudo.Enquanto pensava: Mulherzinha ordinária, me dispensou dizendo que eu quem não prestava, e olha só com quem se envolveu, o cara todo enrolado com agiota,cachaceiro, vagabundo, mas ela me paga, e esse "um" vai ver só com quem se meteu! Não se aguentando mais de sono e cansaço, voltou para casa tomou banho e se esticou na cama com o corpo pesado, por mais que tente só vai conseguir dormir horas depois de remoer seu plano de vingança.


Continuação
Enquanto Katulé entrava em seu barraco, após ter se despedido de Bozó, quebrava á cabeça,imaginando onde arrumaria o dinheiro para quitar à divida, lembrou-se de Tonhão, que lhe devia algum desde antes de ser preso há dois anos atrás por furto!
Katulé havia lhe emprestado dinheiro para que disputasse algumas partidas de truco, onde perdeu tudo e ainda ficara devendo para banca,foi então que resolveu roubar para levantar á grana e acabou preso, saiu para passar o natal em casa, "saída temporária", e nunca mais voltou. Isto já faz quatro meses, desde então resolveu entrar de vez para vida do crime.
- È isto, ele deve estar com dinheiro, andou roubando umas cargas de todos os tipos na bairro e já virou chefe na favela,agora vai ter que me pagar!
Katulé se arrumou e se dirigiu á parte baixa do morro, um lugar chamado Tubiacanga, uma espécie de invasão de sem tetos.
- Tonhãooo! gritou alto Katulé á porta de um barraco no final de uma estreita viela.
Um cachorro latiu não se sabe onde, e á porta do barraco se abriu,surgindo de dentro um moleque muito mau encarado,que perguntou quase com raiva:
- O que você quer? Quem é tú malandro?
- O tonhão tai? Fala que é o Katulé, chegado dele!
- Dí boa, vô vê se ele tá! disse o moleque sumindo no interior do barraco coiceando de desconfiança.
Após alguns minutos, surge Tonhão, com ares de poucos amigos, suando sua arrogância marginal.
- Fala aí, quê cê quer, tá sózinho?
- Sô eu Katulé, to sozinho sim, vim trocar umas idéias contigo!Rapidinho...
- Entra aí, ligeiro que não posso dar bobeira.
-Vou ser rápido, é o seguinte, tô precisando daquela grana que te emprestei antes de você ser preso, o Bozó tá na minha cola, e eu to duro,tenho até amanhã para descolar á grana dele, senão você já viu...
- O homem tá uma fera, até já me ameaçou!
-Tô sabendo!(respondeu o neófito marginal) - Mas não tenho dinheiro aqui comigo, estou com umas mercadorias aí, prá repassar, mas tenho que esperar esfriar! Os policia tão na minha cola, e não posso dar "coceira" agora,você vai ter que se virar!
- Puxa vida Tonhão, te dei á maior força quando você precisou de mim, e agora você dá uma dessas, me arruma aí qualquer coisa prá eu levar pro Bozó, depois á gente vê o resto, preciso desta grana até amanhã senão to frito!
- Olha aqui, já disse que não tenho agora pôrr... preciso vender as mercadorias, só vou por as mãos na grana daqui uns déz dias, vai lá no Nego Lú, se vira com ele, quando eu pegar á bolada te pago,e tú acerta com ele, mas não fica vindo aqui, você sabe que á barra tá pesada pro meu lado.
E eu não quero voltar pra cadeia!
- Tá certo, mas vê se descola logo á grana, pois já te esperei de mais!!
- Escuta aqui! Cê tá me ameaçando, não to gostando deste seu jeito de falar comigo.. Já te expliquei à situação, daqui uns déz dias te procuro e á gente acerta.



continua...




sexta-feira, 25 de março de 2011

Poesia para Crianças

Poesia rima com criança,
Não rima?
Então é matéria prima,
Pois poesia é um teatro,
Onde os atores são as palavras,
Encenando um ato de dança,
Para platéia toda encantada,
Que, quase num passe de mágica,
Se transforma em criança.
Um balé que flutua no palco,
Cujo ator delicado e gentil,
Vem com rimas bem boladas,
Embalar de presente, um sorriso infantil.
A poesia não tem forma,
Como um palhaço, olha só...
Ela tem vida.
O seu sentido só entende,
Quem relembra a infância esquecida.
Peão, pipa, bola, e cabra-cega,
Brincadeira de criança,
Cuja rima e poesia ,
Um dia a vida carrega!



  Autor:Sérghio Gonçalves                                                

quarta-feira, 23 de março de 2011

BOA NOITE!

 Te esperei, você não veio.
Fui dormir, senti receio.
Será que á magoei?
Espero que não.
O que aconteceu ?
me pergunto então.
Acho que me esqueceu...
Perdão!

A CRIAÇÃO DO HOMEM

Homem! Homem! Eu SOU quem te criou/
Mesmo sendo o Criador/
Me pergunto: Quem tu és?
Feito de barro e de vento/
Já não SOU quem te sustento/
Desviastes os teus pés!
Criei-te a minha semelhança/
Dei-lhe tudo em abundância/
Tua vida era perfeita.
Apenas lhe pedi em troca/
Esqueceste a porta larga/
Escolhesse a porta estreita.
Dei-lhe  até a companheira /
Jamais deixei-te sózinho.
Eu te pus um coração/
Lhe mostrei a direção/
Escolhestes outro caminho.
Hoje, puro barro virou lama/
O vento espalhou a vida.
A companheira fartou-se na gula/
O coração virou ferida.
Olha em volta o que fizeste!
De tudo que lhe deixei.
E de joelhos roga em preces/
Pedindo o que já lhe dei...




Autor: Sérghio Gonçalves.

PLÁSTICA

Quero ser mais belo, disse o azul/
Mais belo serei.
Como assim? disse o amarelo/
Se tu podes, eu também poderei.
Disse o verde, com licença?
Falando em beleza, falam de mim.
Pois também marco presença /
E não sou tão feio assim.
O rosa entrando em choque/
Disse meio embaraçado.
Eu também sou tão bonito/
Quanto o cinza do meu lado.
Com ciumes, o roxo grita/
Quem nasce feio não tem jeito/
Por mais que a gente enfeita/
Olha só para a cor preta!
Sempre da para melhorar! disse o lilás
Entrando na conversa, sem querer ficar atrás.
Deus para resolver/
Todo cheio de amores.
O problema   dos  cri-crís/
Juntou todas as cores/
E formou ...O arco irís.




Auutor:Sérghio Gonçalves

AH! POCALIPSE

Ah! Apocalipse, será que é?
Chegou a hora!
Maremoto, terremoto, passar fome,
Mãe que chora.
Os céus se fecham, chuvas!
Chuvas ininterruptas,
os rios se enchem,as águas sobem,
Só restam secas "cuecas corruptas".
É carnaval, alala ôôô ôôô!
Ai que calô ôôô ôôô!
Brasileiro gosta mesmo de levar vantagem,
Mas que vantagem Maria levou?
Copa do mundo,Olimpiadas,
Novelas de sacanagem.
Vaga de emprego, salário $500,00/
Eu vou, eu vou!
Ah! Apocalipse! Ninguém sabe, ninguém viu,
Natureza humana, que tal?
Falando em natureza cadê ela?
Foi-se de mãos dadas, com a ética e a moral.
Ah! Apocalipse, já esta acontecendo,
Crianças violentadas, filhos matando pais,
As drogas estão vencendo.
Ah! Apocalipse, para onde vamos correr?
Vamos matar ou  morrer?
De onde virá o socorro?
Será do Planalto ou do "Morro"?




Autor: Sérghio Gonçalves

terça-feira, 22 de março de 2011

A FORÇA DA PALAVRA

 No principio de tudo, Existia sómente um vazio/
O nada eterno, trevas  tenebrosas.
O espaço era quente ou frio?
Deus observava tudo isto/
em seu interior , um sentimento.
DEUS  sózinho sofria/
Existia sofrimento?
Em seu pensamento pulsava,
O poder da criação.
Precisava criar, mostrar/
Movimentar  o universo, e
preenche-lo.
Mas o que usar para isto?
espírito, matéria...
Mas como concebe-los?
Deus sentiu necessidade de expressar-se/
De entrar em ação.
A palavra, brotou em seu coração.
Tornou-se matéria viva,e propulsora/
Geradora de energia. Surgiu a luz,os céus,os mares/
O homem, a tristeza, a alegria.
A palavra cria, mostra, preenche e, movimenta o universo.
Mas, também é verdade que o homem /
Aprendeu a usa-la no sentido inverso...






Autor: Sérghio Gonçalves

Se....

Se... o si tivesse um sa /
Será que seria um saci?
Se... Eu soubesse voar/
Voaria pra longe,
Ou pra perto de ti?
As pessoas vivem pelo se...
Se... Eu tivesse dinheiro/
Se... Eu pudesse esquecer/
Se...Dezembro fosse janeiro/
Se...Eu pudesse vencer!
Porém se esquecem que...
Se só pensarem em se...(si)
Será dificíl vencer/
Não será possivel sentir/
Mais dificil será esquecer.
Se...Pudesse realizar sonhos/
Os meus e os teus/
Se..Pudesse mergulhar nos oceanos/
Se...Pudesse ser como Deus.
Mas se..
Se...As vidas fossem eternas/
Será que eu queria estar aqui?
Se...Eu soubesse fazer estrelas/
Ou se... Pudesse construir a  paz/
Ainda se...Simplismente merece-las/
Mais ainda se...Agradecer á QUEM as faz...








Autor: Sérghio Gonçalves

OS OLHOS DE INDÁIA

Doce bruma, espuma do mar/
Mil mistérios, têns segredos em teu olhar.
Figura silhueta , movendo-se imponente/
Tu existe simplismente, doces olhos de Indáia.
Sorriso nú, trejeitos no andar/
Cabelos ao vento, sussurros  ao falar.
Qual geleira não derrete?
Ante o brilho que reflete/
Os teus olhos Indáia.
Eu suspiro, invento caminhos/
Subo montanhas pra te encontrar/
A vontade é tanta, estou sózinho/
De olhar em teus olhos/
Oh! doce Indáia.
O tempo ajunta, o vento espalha/
Existe uma escolha, um momento, um lugar/
Sou flôr viva, me recolha/
E me deixe enfeitar, o jardim de teu olhar.
Te darei meu perfume/
Serei teu céu, teu lume/
Esperança em teu caminhar.
Serei estrada bem calçada/
Por aonde tiveres que andar.
A recompensa tu escolhe/
Qual me haverá de  dar.
Porém tudo que me tolhe/
São teus olhos Indáia.




Autor: Sérghio Gonçalves

MARAVILHAS ME DESPERTAS

Encanto-me com seu canto/
Em meu recanto/
me perco pensando.
Vou viajando /
no sonoro espanto.
Enquanto ouço/
Tu cantar teu canto.
Maravilhas me despertas/
Me aguças os sentidos.
Tua vóz soa como harpas/
Tocadas por anjos alertas/
Em unìssono reunidos.
Transpasse-me com teu canto/
Me embebedo de ingerir/
Toca em mim cada nota/
um pranto/
A cada nota que ouvir.
Não quero que pare!
Continue a embalar/
Uma alma flagelada/
Com sua vóz aveludada/
Que não cessa de sonhar.




Autor: Sérghio Gonçalves

POVOS DO BRASIL

Ochê! Isto é Brasil?
Colchas de retalhos/
Pizzas mal passadas/
Pontes que partiu.
Ué! Quem comanda esta carroça?
O homem endinheirado da cidade ?
O favelado?
Ou quem passa fome na roça?
O´xente! Me disseru que este é o país/
Bom pra se vive/
Pra se pranta e coiê/
Cresce e se feliz.
Qualé! Quem é que planta e colhe?
Aquele que ara a terra/
Ou aqueles que o povo escolhe?
Uai sô! Deixa tudo como tá/
Vamô levano/
Diz o acomodado.
Um dia vai melhorar/
Diz o pobre coitado/
enquanto o fumo vai entrando.
Êita! Pátria Amada/
Mesmo sendo maltrapilha/
tu és tão idolatrada
Pois és, Mãe desta família.




Autor: Sérghio Gonçalves

segunda-feira, 21 de março de 2011

Silêncio

Cala-te silêncio!Pois quero ouvir.
Com ouvidos mudos, as vozes soam altas.
Palavras soltas,que posso sentir
O silêncio que grita,abafa os sons.
Sussurros, gemidos, timbres e tons.
Eu quero ouvir, mas não o silêncio
Sim o que falam as pedras,as flores e os ventos.
O grito dos bichos, o passo macio.
A surdez que me prende, não prende o silêncio.
minh´alma se rende, em ruidoso compêndio.
Abstratos gemidos,que chegam com o vento.
Aguçando sentidos, ouço lá fragmentos.
Oh! Surdez que me prende, avanças profunda.
Vou lutar contra ti , audição moribunda.
Farei ainda o silêncio calar.
Ouvirei com a alma o múrmurio do mar.
Pois quero ouvir as cores
que me falam os céus
as estrelas,as flores.
Sei que mesmo entre as dores,
Rasgarei este véu...
                                                                                            






                                                                                                                   Sérghio Gonçalves